A palavra “diáspora”, que remete à dispersão forçada de um povo, é essencial para entender a história do Brasil, o país que mais recebeu africanos escravizados nas Américas. Salvador, com a maior população negra fora da África, reflete essa herança cultural e histórica. É neste contexto que a cidade sedia a Conferência da Diáspora Africana nas Américas, de 29 a 31 de agosto. O evento reúne autoridades, especialistas, pesquisadores, personalidades culturais e representantes de movimentos sociais, além de setores público e privado.
Organizada pela União Africana e pelo governo do Togo, em parceria com os governos federal e estadual, a conferência tem uma programação focada em debates sobre pan-africanismo, memória, restituição, reparação e reconstrução. O objetivo principal é criar um espaço de diálogo sobre desenvolvimento econômico, justiça social e cultura, promovendo cooperação entre as Américas e a África.
A mesa de abertura, realizada no Salão Nobre da Reitoria da Universidade Federal da Bahia (Ufba), contou com a presença do ministro das Relações Exteriores do Togo, Robert Dussey, da secretária da Promoção da Igualdade Racial e dos Povos e Comunidades Tradicionais (Sepromi), Ângela Guimarães, e dos ministros Anielle Franco (Igualdade Racial), Silvio Almeida (Direitos Humanos e Cidadania), e Margareth Menezes (Cultura), além do Reitor da Ufba, Paulo Miguez. Os debates iniciais focaram em políticas de reparação e na valorização das contribuições africanas para a formação do Brasil.
Na oportunidade, a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, ressaltou a importância do evento para as políticas de reparação no Brasil: “estamos aqui para construir pontes entre o Brasil e a África, reconhecendo as cicatrizes da escravidão e avançando rumo a um futuro mais justo. Esta conferência é um marco para fortalecer nossas identidades e a luta por igualdade”.
Já Ângela Guimarães, secretária da Sepromi, destacou Salvador como um lugar emblemático para essas discussões: “Salvador é uma cidade onde as raízes africanas estão presentes em cada esquina. Aqui, reafirmamos nosso compromisso com a promoção da igualdade racial e a valorização da herança africana”.
Herança
A conferência reflete o compromisso do Brasil com a valorização da herança africana. Segundo o ministro Silvio Almeida, o evento representa uma oportunidade para consolidar o país como protagonista nessas questões. “Esta conferência é um marco em nossa trajetória por uma sociedade mais justa e igualitária. Estamos aqui para avançar em políticas concretas de reparação histórica e justiça social”, afirmou.
O professor Euclides Santos aguardou, ansiosamente, pela conferência. Para ele, a escolha de Salvador como sede é estratégica para reafirmar o protagonismo da cidade na preservação do legado africano. “Salvador é um espaço essencial para ações que promovam a restauração do processo civilizatório africano. Precisamos aproveitar este momento para expandir as políticas públicas que garantam à população negra o acesso a direitos historicamente negados”, declarou.
Além das discussões, a conferência serve como etapa preparatória para o 9º Congresso Pan-Africano, que será realizado no Togo, de 29 de outubro a 2 de novembro de 2024, com o tema “Renovação do Pan-Africanismo e o Papel da África na Governança Global”.
Programação
A conferência – restrita aos participantes – terá uma programação variada ao longo dos três dias. A abertura oficial nesta quinta-feira (29) incluiu apresentações culturais e palestras de Gnaka Lagoke, Helena Theodoro e Thula Pires. No dia 30, o evento segue para o Hotel Wish, com rodas de conversa e a plenária para aprovação da Carta de Recomendações.
No último dia, 31 de agosto, as atividades acontecem no Centro de Convenções de Salvador, incluindo a abertura do segmento ministerial, a celebração do Dia Internacional das Pessoas Afrodescendentes e a entrega da Carta de Recomendações pela sociedade civil. O evento é encerrado com debates sobre reparação e valorização da herança africana.