“Hoje uma senhora me parou na rua e perguntou se eu fazia faxina. Altiva e segura, respondi: – Não. Faço mestrado. Sou professora”. Este é um fragmento do texto escrito pela historiadora, Luana Tolentino, professora substituta no Departamento de Educação da Universidade Federal de Ouro Preto. O fato ocorreu em Belo Horizonte, em 2017, quando a docente se dirigia para uma escola onde trabalhava.
No Podcast Diálogos com a Educação, a pesquisadora fala sobre diversos temas, como práticas discriminatórias, a negação do racismo, a lei 10.639/2003 (que obriga o ensino da história e da cultura afro-brasileira), além de problematizar questões relacionadas ao vitimismo e ao racismo reverso.
“Há uma recusa, há uma má vontade de se compreender o que está sendo colocado. Há uma negação do racismo no país. Então, por isso que para algumas pessoas, o negro recusar, refutar esse lugar de discriminação de violência é visto como vitimismo.
Por que nós que vivemos também sob o signo da democracia racial, as pessoas acreditam piamente que vivemos num paraíso racial, e se negam a acreditar que o racismo se dá cotidianamente.
Então uma prática racista não é só chamar o outro de macaco. Não é isso.
São estes mecanismos de impedir a circulação, de negação, este olhar de desconfiança. Tudo isso é parte das práticas discriminatórias, das práticas racistas”.
Luana Toletino reflete sobre o papel da escola pública para a desconstrução do racismo, questiona o racismo estrutural na sociedade, inclusive dentro da Universidade, e comenta sobre os olhares de inferiorização em relação as pessoas negras. Nestes contextos, a historiadora alerta sobre a baixa existência de docentes negras e que, embora existam muitas mulheres afrobrasileiras atuando profissionalmente na UFOP, a maioria trabalha em atividades relacionadas a serviços gerais, na cantina e na cozinha. A pesquisadora reforça que o Brasil é um “país extremamente racista” e questiona, a partir de seus estudos, o fato de a própria Universidade ter menos de uma dúzia de professoras negras dentre os 1.100 docentes.
A historiadora trabalhou durante dez anos na educação básica e atualmente é professora de futuros profissionais da educação. Luana Toletino é autora do livro “Outra Educação é Possível – feminismo, antirracismo e inclusão em sala de aula”.
Link para a matéria e o Podcast: https://radio.ufop.br/noticias/podcast-dialogos-com-educacao-antirracismo-praticas-discriminatorias-e-espaco-escolar